terça-feira, junho 14, 2011

Tempo



Por Adelia Prado


A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.
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Esta semana meu cérebro pensa em tudo como algo muito tedioso, trabalhoso, chato e sem razões. Sem razões para meus pensamentos destinarem suas energias a determinados casos isolados e acontecimentos medíocres que não cabem no meu mundo já calejado de mediocridade e superficialidade.
Quero a fome de coisas que valham a pena.

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